Quem falou por todos, logo em 2018, foi o embaixador Martins da Cruz: “Não me revejo em pacóvios suburbanos”, a propósito de Rui Rio que havia ganho a liderança do PSD. Homem do Porto, que assentava os cotovelos à mesa e não tinha os modos do Tamariz, não podia estar à frente de um partido com aquela grandeza.
Nos jornais e nas televisões a opinião era a mesma. Referia-se o nome do homem e logo os donos da opinião pública se sentiam na obrigação de dizer algo com piada.
Esqueciam-se de algumas coisas básicas: Sá Carneiro era do Porto, e mesmo os opositores de Rio na conquista da liderança eram daqueles lados: Luís Montenegro de Espinho e Paulo Rangel também do Porto.
Para além disso, dava mostras desde o início de ter ideias definidas acerca do que pretendia — e das quais nunca se afastou. Mais: provava, etapa a etapa, ter razão nas suas previsões e dava mostras da consistência dos quadros políticos enunciados.
Ao mesmo tempo, os comentadores oficiais do regime continuavam a rir e até a mostrarem um esgar de desprezo pelo político nortenho nas suas apreciações.
Quem me conhece sabe bem que nem a ideologia nem a história do PSD são próximas à minha forma de ser — talvez por isso possa ver melhor o comportamento dos que vivem à roda dos favores do líder.
Há dias, Rui Rio invadiu o sossego da minha esplanada para perguntar se me podia cumprimentar. Disse-lhe que sim, mas aproveitei para o invectivar acerca do comportamento do PSD em matéria de Educação.
Escutou-me com muita atenção e procurou contra-argumentar nalguns aspectos. Olhei com vagar para ele: estava vestido com algum gosto, tinha o cabelo bem tratado e um cachecol de um azul bonito.
Mas, principalmente, aparentava uma serenidade surpreendente para quem vivia uma etapa-chave da sua vida política.
Para mal dos meus pecados, aquele homem ainda vai ser primeiro-ministro de Portugal.
Foto: Jornal de Negócios
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