quarta-feira, 1 de junho de 2022

Na missa do 7º dia de Matias de Barros


O meu pai morreu. Desde criança que tinha medo de ouvir isto e agora aconteceu. Às vezes sentia um medo aterrador da demora enquanto ele não chegava a casa, mas a minha condição de irmão mais velho fazia-me calar perante o Rogério. Agora sei que não volta mais. E estou a sofrer como um adulto perdido num labirinto sem saída. Alguém dizia que com o tempo vamo-nos habituando; não tenho a certeza disso, cada vez sinto mais a morte do meu pai. 

Depois do funeral percebi que a partir dali não teria mais ninguém com quem tirar dúvidas sobre o passado. A vida dos homens importantes que passavam pelo Café-Bar, em Viana, ou as histórias bem-humoradas do passado familiar apenas poderiam sobreviver com a memória do que o meu pai contara. Só que a minha memória está longe de ser perfeita e o Google não serve para estas coisas.

E os netos querem saber. E têm direito a isso. Mas sinto um receio imenso de não conseguir cumprir o legado do meu pai. De não vir a ser o “último cavalheiro” tal como disseram dele nos elogios fúnebres. 

Acho que vou ter de me deixar de formalismos monárquicos e pedir ajuda ao Rogério. A ver se juntos somos capazes de esperar pelo pai sem chorar.

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