sábado, 30 de setembro de 2023

Esta tarde na praia de Afife


No sítio de sempre, no lado norte da praia de Afife, entre as rochas, lá estava o Senhor Doutor deitado, o corpo esquálido próprio dos poetas, a sorver a energia que só o sol pode transmitir. Aproxima-nos dele:

— Então Doutor, viu por aí algum rapaz de “camisola verde/Negra madeixa ao vento/Boina maruja ao lado”?

— Nos dia de hoje poucos se sabem vestir. Uns calções esfarrapados, uma t-shirt encarniçada pelo sol e ala que Afife espera por nós. 

— Isto se falarmos em roupa. Porque no que diz respeito às danças tradicionais, bem… aí estamos ainda pior. 

— Pode escrever lá no seu jornal: nem em Santa Marta, nem na Meadela, nem na Areosa, nem em Afife, há dançarino que esteja ao nível de um Domingos Enes Pereira. Julgo não ser necessário dizer mais nada. 

— Pelo que vejo, para o Dr. Pedro Homem de Melo salva-se apenas esta praia em relação ao que a região já foi. 

— Está enganado: nem a praia parece a mesma. Em vez daquela esplanada que era um autêntico miradouro fizeram um largo pejado de paus ameaçadores sem préstimo algum. A ecologia quando é como deve ser não prejudica a qualidade de vida das pessoas. Pelo contrário. 

— Considerando o seu desencanto, hoje não escreveria o poema “Havemos de ir a Viana”?

— Uma coisa não tem nada a ver com a outra. A terra continua a mesma e as pessoas têm a festa a correr nas veias. Os celtas lá saberão porquê. 

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