sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Viagem no Alfa


A paisagem a correr veloz, os olhos da jovem a quererem fixar o instante, as cores a não se distinguirem, o nariz dela encostado ao vidro, o pai sentado a ouvir Liszt nos auscultadores, “jantar no vagão-restaurante” diz o homem do comboio, Aveiro nunca mais chega, a menina não gosta de Liszt, anda a ouvir vezes sem conta os Future Island, as terras correm iguais atrás das carruagens, a memória da mãe que ensinava na universidade de Aveiro e que esperava sempre pelos dois na estação, o mar da Barra forte e grande a brincar com ela no Verão, a mãe antes de morrer sentada na areia a olhar para a sua menina, o comboio cruza-se a grande velocidade com outro, o pai pega num jornal de economia, o nariz a despegar-se do vidro, a menina vai levantar-se e andar, as aldeias feias pararam de correr, não há-de demorar muito a chegar a estação de Aveiro.

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