quarta-feira, 1 de maio de 2019

1º de Maio


Janela ou porta que se preze está hoje engalanada com um ramo de giestas ou com uma coroa de flores. Os portugueses actuais aprenderam com os romanos a esconjurar desta forma os seres maléficos e a festejar o recomeço do Verão e da vida.
Nisto sou igual a todos os outros: ontem à noite disse à Dona Lurdinhas para decorar com as tradicionais Maias a minha casa. Não que acredite em dimensões esotéricos do mal, mas a precaução nunca fez mal a ninguém. 
Ainda por cima não dá trabalho nenhum...
Estamos, por isso, todos mais seguros a partir de hoje. Escusa o Doutor Centeno de pensar em mim ou no leitor. Quer dizer, “penso eu de que”... o leitor pendurou a Maia na sua porta, não é verdade?
Se não o fez também não entre em desespero. Aqueles que me lêem são normalmente pessoas confiantes em si, com um grau de auto-estima francamente positivo. Deve ser este o seu caso. 
Afinal, que mal poderá chegar até si através da porta ou das janelas da sua casa?
Raramente olha para a rua cinzenta onde mora. Os vizinhos já os conhece de ginjeira. Só se for a campainha da porta a tocar e a anunciar os fiscais dos impostos, as testemunhas de Jeová, o canalizador com a conta de 7 mil e duzentos euros para pagar, ou a Vanessa lá do escritório. 
Pelas janelas, então , o infortúnio nunca se mostra. A menos que o passarinho de penas amarelas invada a sala e largue as demasias fisiológicas no tapete de Portalegre comprado com muito suor por si. Ou então que o preservativo do Sr. Antunes da mercearia seja lançado desde o apartamento da D. Manuela para uma aterragem de emergência no passeio da rua — com passagem obrigatória pela janela do escritório onde a filha adolescente do leitor costuma estudar. 
Caso o mal seja mais grave, tenha a ver com a esquizofrenia do cônjuge ou com a zanga definitiva da sogra, por exemplo, então nessa altura será melhor recorrer aos serviços de alguém experiente em tirar o diabo do corpo da vítima de tanto mal. 
O meu consultório fica situado na Avenida de Roma, número 676, segundo esquerdo, em Lisboa. 
Não há ninguém igual ao autor destas linhas.

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