Janela ou porta que se preze está hoje engalanada com um ramo de giestas ou com uma coroa de flores. Os portugueses actuais aprenderam com os romanos a esconjurar desta forma os seres maléficos e a festejar o recomeço do Verão e da vida.
Nisto sou igual a todos os outros: ontem à noite disse à Dona Lurdinhas para decorar com as tradicionais Maias a minha casa. Não que acredite em dimensões esotéricos do mal, mas a precaução nunca fez mal a ninguém.
Ainda por cima não dá trabalho nenhum...
Estamos, por isso, todos mais seguros a partir de hoje. Escusa o Doutor Centeno de pensar em mim ou no leitor. Quer dizer, “penso eu de que”... o leitor pendurou a Maia na sua porta, não é verdade?
Se não o fez também não entre em desespero. Aqueles que me lêem são normalmente pessoas confiantes em si, com um grau de auto-estima francamente positivo. Deve ser este o seu caso.
Afinal, que mal poderá chegar até si através da porta ou das janelas da sua casa?
Raramente olha para a rua cinzenta onde mora. Os vizinhos já os conhece de ginjeira. Só se for a campainha da porta a tocar e a anunciar os fiscais dos impostos, as testemunhas de Jeová, o canalizador com a conta de 7 mil e duzentos euros para pagar, ou a Vanessa lá do escritório.
Pelas janelas, então , o infortúnio nunca se mostra. A menos que o passarinho de penas amarelas invada a sala e largue as demasias fisiológicas no tapete de Portalegre comprado com muito suor por si. Ou então que o preservativo do Sr. Antunes da mercearia seja lançado desde o apartamento da D. Manuela para uma aterragem de emergência no passeio da rua — com passagem obrigatória pela janela do escritório onde a filha adolescente do leitor costuma estudar.
Caso o mal seja mais grave, tenha a ver com a esquizofrenia do cônjuge ou com a zanga definitiva da sogra, por exemplo, então nessa altura será melhor recorrer aos serviços de alguém experiente em tirar o diabo do corpo da vítima de tanto mal.
O meu consultório fica situado na Avenida de Roma, número 676, segundo esquerdo, em Lisboa.
Não há ninguém igual ao autor destas linhas.
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