sábado, 18 de maio de 2019

Benfica contra o Porto


“Às vezes não sei que pensar: eu sozinha aqui e o mundo lá fora a rir e a divertir-se. E tudo por causa do Benfica. O Artur nas bancadas junto aos amigos e a esposa largada ao tédio de um Sábado à tarde na casa de sempre. O jogador a avançar decidido para o golo, a assistência a aplaudir em êxtase, a cor encarnada a cobrir de glória o estádio. Bem me dizia a minha mãe: ‘Filha, não queiras um homem que ande atrás da bola o tempo todo — é vulgar e não te vai dar nunca uma casa fora do Montijo.’ O malandro do Artur enganou-me bem: não apreciava futebol, não tinha clube e depois foi o que se viu. E ainda por cima o Benfica. Se ainda fosse do Sporting, uns senhores aperaltados, com bons empregos, ainda se suportava.
Agora eu sei, a vida pregou-me muitas rasteiras. Não fosse o Benjamim a mostrar-me o lado bom das coisas e nada em mim faria sentido. Mesmo gostando de futebol e sendo fanático do Porto ele sabe distinguir as coisas: o amor de uma mulher é mais importante que a bola, diz muitas vezes. 
Por falar nisso, a que horas é o jogo? Deixa ver: às seis e meia — já não falta muito! O Benjamim mostrou vontade de conhecer o sítio onde moro e beber vinho branco numa lugar da casa que eu escolhesse. 
Isto pelo menos até o árbitro apitar para o final do jogo.”

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