sábado, 25 de janeiro de 2020

Polica e futebol: essa mistura explosiva


Este país, por vezes, parece uma anedota. Grande nalgumas áreas e depois rasteiro nas coisas relativas à volatilidade e ao egoísmo. É o que tem acontecido com os chamadas Leaks, também conhecidos por fugas de informação. Especialmente quando estes rombos na confidencialidade se referem ao futebol português.
Com a política a reação é pacífica. Mas se este fenómeno se referir ao Benfica, a equipa que ajudou a suportar a guerra de África e a emigração de Paris, então cai S. Bento e a estátua do marquês. 
Em Portugal nenhuma instituição se compara em termos de importância ao clube da Luz. É neste contexto que se integra a história recente de um tipo de cerca de 30 anos, licenciado em História e especialista autodidacta em informática. Chama-se Rui Pinto e é acusado pela direcção benfiquista de ser o autor da invasão no correio electrónico do clube, apropriando-se de informação prejudicial para o sucesso futebolístico encarnado.
É preciso prender o autor de tal desaforo! — vociferaram em coro nas televisões os comentadores do costume. E aqui começa a ingenuidade das instâncias judiciais e da polícia portuguesa. Ouviram dizer que o hacker estava em Budapeste e nem pensaram duas vezes. Mas quem é o rapaz? “Isso não interessa, o povo e o governo vão gostar da nossa eficácia.”
Azar: o tal curioso das coisas da informática e presumido hacker do Benfica é tão só o fundador da plataforma Football Leaks, denunciadora de fenómenos de corrupção do futebol a nível mundial. Quando se deram conta já era tarde demais: os húngaros autorizaram aliviados a sua extradição e os portugueses viram-se obrigados a gizar uma nova estratégia. Expuseram-no à chegada a Lisboa como fizeram um século antes com o rei Gungunhana e, de seguida, prenderam-no numa cela de alta segurança, onde está desde Março de 2019, sem poder contactar outros reclusos e guardado como se fosse cabecilha do Daesh.
Claro que a resposta do “nerd dos computadores” havia de fazer-se sentir, a começar na anunciada divulgação de informações de interesse colectivo. As primeiras aí estão, os Luanda Leaks. “Mas que importância tem Angola comparada com a grandiosidade do Benfica?” — continuam a pensar os responsáveis políticos e judiciais, esquecendo-se que Rui Pinto ainda só disponibilizou uma pequena parte do volume de informação que possui. Vem aí matéria sensível sobre procuradores-gerais, primeiros-ministros, banqueiros, deputados, advogados de firmas muito conhecidas. 
E tudo porque os dirigentes da administração judiciária e policial escolheram a via do sucesso fácil quando foram buscar o Rui Pinto a Budapeste. Isto para além de continuarem com os tiques que os definem pelo menos desde a inquisição. 

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