segunda-feira, 5 de abril de 2021

Esplanada da Páscoa de 2021


Este ano é já o segundo de uma desgraça vivida a muito custo. A covid-19 minou o viver colectivo na falta de previsibilidade quotidiana.

No meu caso as proporções negativas são ainda maiores. Para quem encontra nos outros a razão de viver, o solilóquio permanente não substitui nada. Eu sou, sempre fui, o “homem que olha” do Alberto Moravia. Quer dizer, a minha história de vida é a dos que fugazmente se situaram na vizinhança da minha mesa. Aonde? Na esplanada, onde havia de ser?

Significa isto que não vivi nos últimos meses. Um “voyeur” precisa de ter na mesa ao lado a prima assim-assim da Soraia Chaves, o Labrador castanho com mancha branca, o Sr. José da banca dos jornais, a velha serigaita que já foi vedeta de televisão. 

Sem eles eu morro. Pelo menos animicamente. É por isso que, só hoje, dia em que o Dr. Cabrita autorizou a reabertura das esplanadas, renasço para a vida. 

Como se usufruísse finalmente da minha Páscoa. Da possibilidade de ser outra vez. Eu e a Primavera, e o Sol, e a roupa clara. Aleluia! Aleluia!

Olho em frente e o mar desafia-me com um sorriso próprio de quem compreende. É a prerrogativa dos verdadeiramente amigos. 

Segunda-feira de Páscoa de 2021

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