segunda-feira, 19 de abril de 2021

À procura da identidade


O ser humano é muito estranho; torna-se, por isso, difícil apreendê-lo em toda a sua complexidade. Podemos estudá-lo pedaço a pedaço, primeiro os olhos, depois a palavra, logo de seguida traçando o perfil pisco-afectivo do pai ou da madrasta. Vai dar mais ou menos ao mesmo. Quer dizer, a muito pouco.  

Ou então buscando no todo a resposta de quem nunca é só um momento. Nem um só sítio. Nem uma só pessoa. Da mesma forma que não se confunde com uma música, um livro, um filme, um amor. É cada uma dessas coisas e muito mais do que isso. 

Pode-se mesmo recorrer às estratégias que o engenho científico nos proporcionou. Do cubismo à psicanálise existencial, do gestaltismo à neurofisiologia, da inteligência emocional à biotecnologia — os resultados são positivos mas sempre parcelares. 

Falta a perspectiva integrativa (não confundir com generalizadora) capaz de distinguir o acessório do essencial, produzindo um continuum coerente acerca de cada indivíduo. 

Claro que nem todos poderão chegar a este estádio de compreensão. Na primeira fila deste grupo de notáveis estarão os artistas, com destaque para os escritores e os poetas — desde que beneficiários da evolução científica conseguida pela comunidade dos investigadores. 

Na segunda fila sentar-se-ão as senhoras nossas vizinhas do terceiro esquerdo, do sexto frente, as clientes do café da Dona Júlia, a jornalista da Alerta TV e o Sr. Abílio do quiosque. 

Sem a contribuição de todos eles a ciência nunca será capaz de atingir a ansiada douta ignorância.

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