sábado, 16 de outubro de 2021

Carta a um adolescente só


Sempre que te sentires só, o mais triste de todos os homens, sem amigos, sem um projecto de vida definido, escreve. 

Mas escrever sobre o quê? — pergunta o jovem adolescente. Sobre ti mesmo. As tuas inseguranças, a razão delas, o tanto que te fazem sofrer. 

Dessa forma poderás entender-te melhor, racionalizando a tristeza, o desconhecimento de ti e dos outros. 

Para além de que através da escrita terás sempre a possibilidade de escolher situações diferentes, homens e mulheres fascinantes, locais de sonho. Depressa compreenderás que a vida é teatro, mentira consentida, e aceitável por isso mesmo. 

Faz desta estratégia de superação a identidade inteligível em cada página. Com uma condição: tens de ler para poderes escrever. Não é possível uma coisa sem a outra. Se assim não fizeres nada compreenderás. Nem as tuas faculdades nem as falhas dos outros.  

A este propósito: observa a vida olhando-a de forma compreensiva. Senta-te numa esplanada e aprecia-a sem que nada te escape. Ou então quando fores a um concerto, a uma inauguração, a uma viagem, a um velório. E pensa em cada pormenor. 

Por último, não escrevas nem vivas qualquer tentativa de perfeição. A vida não é assim, nem as pessoas nem tu. O que torna tudo mais interessante. Sobra espaço para a criatividade e para o livre arbítrio. 

E não te esqueças: sê feliz. Escreve e faz e escreve. Mesmo quando trabalhares num laboratório, num museu, numa escola. 

E ama. A ti e à vizinha do terceiro andar. Ela sente mais a solidão do que tu. Porque não escreve.

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