quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Ao Francisco e à Marília


Vi-os outro dia numa fotografia de uma rede social. Lá estavam os dois, cúmplices como sempre, boas pessoas à espera que os outros o sejam também. Olhei para as caras deles e senti os olhos humedecidos pela emoção. 
Trinta anos nos separam em termos de convivência. Por essa altura cheguei à vila alentejana onde o casal vive, professor acabado de estagiar, novo portanto, vindo do Norte. Tinha sido colocado a dar aulas de Filosofia e Psicologia na escola secundária local. 
Não tinha casa onde ficar a viver, como é óbvio. A única sugestão que recebi era a de um quarto, propriedade de um cangalheiro, que fazia os seus serviços no andar de baixo. 
Ora eu e a morte não temos uma relação muito fácil. Não aceitei e foi o tal casal que me salvou. Um primeiro andar só para mim e o rés-do-chão ocupado pela família alentejana rica que, de certa forma, se tornou também minha.
O resto da história um dia contá-la-ei, quando a extensão dos textos não afugentar ninguém.  
Fica só este pormenor para suscitar a curiosidade do leitor: nas primeiras semanas, era habitual o telefone tocar madrugada fora na casa dos senhorios, com a voz de um indivíduo que dizia ser agente da judiciária a informá-los de que tinham albergado na mansão um indivíduo muito perigoso, nem podiam calcular quanto... 
Uns meses depois, o casal de proprietários sondou-me para ser padrinho de um dos filhos, tal era a amizade que havíamos conquistado dia a dia, conversa a conversa, chá príncipe a chá príncipe.  
Tenho muitas saudades vossas. 

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