domingo, 19 de dezembro de 2021

O belo na arte


O belo pode ser traduzido de milhentas formas. Através da palavra escrita, da pauta de música, da aguarela ou da fotografia, para só citar algumas possibilidades. Significa isto que o mesmo conceito ou sentimento manifestam-se de modo muito próprio nas diferentes formas artísticas. A dor ou o riso são os mesmos, a técnica e os materiais a utilizar primam pela diversidade.
Ao contrário do que a aparência nos diz: pintar ou fotografar parecem ser caminhos interpretativos que não podem alguma vez confundir-se. E, no entanto, tanto na tela como na película fotográfica procura-se o mesmo – a exteriorização do que nos vai interpelando à procura de sentido.
“Ah, mas a fotografia só pode aspirar a materializar processos figurativos, ao contrário da pintura”, dirão muitos. Estão tão enganados. A fotografia de rua deu-nos sobejos exemplos de que o transcendente pode ser captado pela lente de uma Leica. Que o diga Cartier-Bresson.
Ao mesmo tempo que o pintor pode não ser capaz de ultrapassar a mera reprodução de um objecto, incapaz, por isso, de sublimá-lo ao nível de uma dimensão absolutamente outra, captando a sua essência, que é aquilo que aproxima o resultado artístico do patamar de qualidade pretendido.
E nisto reside o segredo da boa produção pictórica ou literária ou outra: a tentativa da materialização possível do conceito de belo, por exemplo. Aliás, é neste plano de interpretação de uma ideia que muitos soçobram, esquecendo que toda a realidade resulta da confluência da objectividade e subjectividade.
A Gala pintada de costas pelo seu marido Dali é personificação do belo porque participa daquilo que só as realidades que não se inscrevem na vulgaridade do dia-a-dia são capazes de possuir. Da mesma forma, a apreciação da beleza depende também da educação, da vida e dos gostos daí decorrentes que nos caracterizam. Só desta forma seremos capazes de entender que a reprodução do corpo da mulher-amante daquele pintor catalão não é tão somente arte figurativa – é muito mais do que isso.
Talvez isto ajude a explicar porque algumas obras têm apreciações aproximadamente consensuais.

(De referir que a imagem que acompanha este texto é a fotografia de uma modelo chamada Francesca e que normalmente vive entre Ibiza e a Toscana)

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