segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

A minha turma do liceu


Normalmente são as gavetas que guardam os acontecimentos que já fizeram parte de nós. De vez em quando, por uma razão estranha ao achado, abrimo-las e a surpresa acontece.

Foi o que aconteceu com esta fotografia. Vinte rostos de adolescentes olham para nós a perguntar-nos qualquer coisa que não entendemos. São colegas de turma deste vosso escrevinhador, por altura da frequência do secundário no Liceu de Viana. Entre as muitas turmas que tive não é esta a que recordo com mais nitidez; com estes rapazes e raparigas apenas me arrastei pelas salas de aulas durante dois anos. 

Com raríssimas excepções, não sei o que lhes aconteceu na vida. Nunca mais os vi, provavelmente se os visse não os reconheceria. Sei vagamente que alguns seguiram os caminhos do Direito, dois ou três são hoje professores. E pronto — é só isto o que conheço da vida que se lhes seguiu. 

Para os crentes nas minhas efabulações aviso desde já que não consto da imagem de grupo. Nunca gostei de ser fotografado, o que não traz prejuízos para ninguém.  

Um esclarecimento necessário: alguns daqueles jovens, ainda crentes no futuro que estava a começar, estão decapitados no instantâneo fotográfico. 

Não sei quem foi o artista de tal façanha — com sorte ainda se tornou um dos realizadores do cinema português de que ninguém guarda na memória.

Mesmo com todas as fragilidades técnicas, a imagem vale pelo olhar dos miúdos quase adultos e do que eles traduzem de esperança e de alegria no tempo que está logo ali, depois da curva do liceu. 

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