sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

O PSD e Elina Fraga

 

O PSD continua a ser um saco de gatos muito maus. Afastado do poder e, em consequência disso, sem um caudilho que ponha e disponha à livre vontade, afunda-se em lutas internas sem qualquer interesse extra-partidário. É a disputa dos egos que se sobrepõe a tudo o resto. 
No Domingo passado assistiu-se a mais um episódio desta triste história de 42 anos. Aliás é por estas e por outras que muitos dos portugueses não querem saber dos partidos. Preferem a universidade, o mundo empresarial ou, então, a cultura. 
De quando em quando lá aparece um elemento novo neste emaranhado patético de emoções. Dá a cara, apresenta ideias próprias que dificilmente serão aceites e põe em causa a família e a vida pessoal que era até então a razão de quase tudo. 
Foi assim que Elina Fraga viveu estes últimos dias. Convidada pelo presidente do partido e de seguida apupada pelos correligionários. Só porque tem ideias próprias e luta por elas. Tal como fez sempre. 
Mas não é de pessoas desta estirpe que a política precisa? É, desde que não ensombre o protagonismo mediático dos medíocres. Nem contradiga a paixão clubística que envolve cada um dos governos.  
E estes parecem ter sido os pecados de Elina Fraga: enquanto bastonária pôs em causa uma reforma judicial recusada pelos advogados, que tinha em vista retirar ao interior do país um dos últimos bastiões de pertença a um todo nacional. 
Exactamente o que agora em uníssono se sentem na obrigação de defender, um ano depois de os fogos terem posto a nu os erros clamorosos praticados pelos diversos governos ao longo de muitos anos, quando esvaziaram de gente e de instituições uma parte considerável do país. 
No dia a seguir a ter sido vaiada pelos elementos do aparelho partidário veio a Procuradoria-Geral da República a terreiro deitar achas para a fogueira: que sim senhora, a antiga bastonária estava a ser investigada pelos senhores procuradores. 
Quem mandou Rui Rio pôr em causa o trabalho imaculado da procuradoria? Tudo isto é muito triste. Portugal avançou em quase tudo menos em arestas por limar da vida democrática e do sistema judicial. 
Mas que o velho PSD não se engane: as adversidades fazem mais por Rui Rio e por Elina Fraga que os discursos dos deputados que o são há três décadas e que pululam no Partido ou os artigos escritos pelos saudosos da União Nacional no jornal Observador. 
Conheci a antiga bastonária meses antes de ter sido eleita para aquele cargo. Mulher de princípios, combativa, esforçada, competentíssima, advogada dos pés à cabeça, diferente para melhor que a grande maioria dos seus colegas de profissão. 
O PSD, que não é o meu partido, vai ter de apelar ao que tiver de melhor nas suas reservas patrimoniais. Elina Fraga é uma mulher sem medo tanto da disputa intelectual quanto de uma qualquer manifestação de violência física.
Uma vez, na assembleia geral onde se ia decidir a agregação da escola onde estudava a filha (aconteceu o mesmo por esse país fora, sem que a comunicação social tomasse conhecimento da não-democraticidade do processo, tal era o deslumbramento dos opinion-maker acerca do consulado de M. Lurdes Rodrigues), a nova vice-presidente do PSD viu-se de forma crescente rodeada de indivíduos que a queriam intimidar e ao mesmo tempo impossibilitá-la de intervir em público. De nada valeu o caciquismo contra a razão e a lei. 
O melhor é os arautos de um tempo que ninguém mais quer — só eles é que não perceberam — buscarem no estudo e na inteligência colectiva estratégias novas de luta.

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