segunda-feira, 10 de junho de 2019

A sociedade portuguesa actual e a da idade média

Acabo de chegar ao meu segundo escritório, o da esplanada, e com que é que deparo? Com uma jovem eslava solitária por culpa de um feriado nacional que não compreende. Os ouvidos a acompanharem Liszt nas suas deambulações pelo mundo dos sons, os olhos fixos no computador (pelo menos até eu aparecer). Está a escrever a tese de doutoramento com o título “A Sociedade Portuguesa no Século XXI - Análise sobre a permanência da Idade Média no tempo actual”. Pela minha cara viu que não gostei muito do tema. Disse-me que que como homem inteligente (como é que ela percebeu tão rapidamente?!) deveria pensar seriamente no assunto. “A Madonna tem razão”, atirou-me em jeito de provocação. Por essa altura já eu pensava como fazer para esganar uma rapariga bielo-russa. Mas depois lembrei-me de muitas coisas: dos servos da gleba, dos senhores feudais, da quase impossibilidade de mobilidade social, do engajamento a um só perfil cultural, dos círculos de poder de admissão exclusiva, e lembrei-me da sociedade portuguesa contemporânea. De Lisboa e de Pampilhosa da Serra, de Marcelo e da Cristas, do Carlos César e do André Silva, da SIC e do Banco de Portugal, da Santa Casa da Misericórdia e do Banco Alimentar Contra a Fome, do aumento do ordenado dos juizes e da crise dos professores — e milagrosamente a rapariga loura tornou-se cada vez cada vez mais interessante. 
Perguntei-lhe se sabia como era o namoro na idade das trevas, ela disse-me que só estava em Portugal há duas semanas. 
Levei-a a uma festa de BDSM e bondage. 

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