domingo, 25 de março de 2018

Mudança da hora


Não, não e não. Uma hora a menos! Mas quem se arvora em dono do tempo? Não gosto que usurpem o que é meu. Ainda não esqueci aquela vez que me roubaram um guarda-chuva caríssimo da Lacoste numa sala de professores. Ou que um docente catedrático atribuiu-me uma nota à frequência de Filosofia Social e Política sem sequer a ter visto. 

Não, comigo não. Numa hora o presidente Marcelo deixa de derrubar vinte pinheiros, a Marisa Matias de seduzir sete eurodeputados, a Joana de Vasconcelos de fazer pela milésima sétima vez o Coração de Viana, o Rui Veloso de musicar mais um poema do Carlos Tê, o António Costa de atrasar a sua ascensão ao cargo de chefe da Europa.  

Não, não e não. Uma hora é o tempo de ver as ondas do mar morrerem enquanto desenham os meus pés arregaçados na areia, é a página que se segue à outra e à outra para terminar de ler pela centésima terceira vez O Doidinho do José Lins do Rego, é o bocado da noite que me resta para procurar dentro de ti o grito que fará seres minha.

Nessa hora que nos querem roubar, o amor surgirá quando os teus olhos derem uma volta ao céu e a tua boca recuperar o vai e vem da respiração.

Será esse o tempo de pedirmos ao tempo que não ande mais. 

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