sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Desde DOSTOEVSKY (até aos dias de hoje...!!) — A insatisfação levada ao extremo


Ainda sou do tempo em que vinha alguém da tipografia entregar as provas para o meu pai rever. Um martírio para aqueles homens que juntavam as letras, uma a uma, da mesma forma que Gutenberg ensinou. 
Imagine-se o que eles enfrentavam quando os textos eram de jornalistas ou escritores conhecidos pela inesgotável necessidade de correcção. E eram muitos assim. 
Quem escreve sabe bem do que falo. A frase pode sempre ser melhorada. Aquela palavra não é bem a que se pretendia. 
Eça de Queirós escrevia e riscava numa ânsia de perfeição que nunca tinha fim. O Camilo, coitado, não podia dar-se a esses luxos, mas Aquilino, Pessoa, Saramago, Cardoso Pires eram alguns daqueles que punham a cabeça em água dos tipógrafos. 
Talvez porque a personalidade do artista é normalmente frágil, insegura, dependente até ao extremo da opinião dos outros. Sem que alguma vez a vaidade lhes permita admitir tal condição.

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