domingo, 12 de setembro de 2021

Jorge Sampaio, o cidadão-presidente


A memória da multidão é breve e injusta. Na semana passada, os comentários dos leitores dos jornais e dos frequentadores das redes sociais – secundados por alguns textos de jornalistas – falavam com enfado da previsível morte de Jorge Sampaio. A exoneração da administração Santana Lopes era a razão aduzida por todos, esquecendo-se esta turbe que aquele governo caiu por si mesmo, tantas as trapalhadas em que se envolveu.

Nos últimos três dias, surpreendentemente, os portugueses redescobriram o Presidente Sampaio. Nem uma só crítica se ouviu nas televisões, só elogios ao “homem bom”, ao cidadão impoluto, ao homem de causas. A pouco e pouco, foram-se mesmo descobrindo situações desconhecidas do grande público, vividas num tempo político especialmente difícil.

Os desaparecidos detractores de Jorge Sampaio enganaram-se acerca deste homem. Ele foi o mais próximo do ideal republicano de todos os presidentes eleitos depois do 25 de Abril. Discreto, institucionalista, avesso aos rankings de popularidade, diplomata de excepção, cidadão-presidente igual nos direitos a qualquer outro português.

Tive oportunidade de o conhecer pessoalmente. Recordo com saudade um jantar num dos mais bonitos hotéis do país, o de Santa Luzia.

Só mais duas coisas muito breves. A primeira, refere-se ao comportamento da mulher e dos dois filhos, o André e a Vera, nas cerimónias fúnebres, exemplar a todos os títulos. 

Por último, Portugal, país de nove séculos, poderá ter, um dia destes, de recuperar o debate, por mais paradoxal que possa parecer, entre as vantagens do republicanismo e da monarquia numa União Europeia progressivamente federalista.

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