domingo, 26 de setembro de 2021

Solidão urbana


Hoje saí de casa para votar. As mais das vezes estou na sala fria da casa com a manta a cobrir as pernas e a televisão a quebrar o silêncio. Na carpete o gato Atum partilha a minha solidão.

Ultimamente não me sinto feliz. Não tenho a quem dizer o que seja, a minha mulher morreu o ano passado, a filha mora com a família na outra banda do rio. Os camaradas da bisca foram um a um desaparecendo. Restam poucos, todos eles tristes e ensimesmados como eu.

O mundo em que eu vivo já não é meu, sinto-o muitas vezes. Não sei quem são as pessoas de quem a televisão fala, os cantores do meu tempo foram substituídos por figuras grotescas vestidas de forma estranha. O próprio Benfica já não é tão glorioso como antes. 

Estou a pensar mudar de poiso nas horas livres. Em vez de ir para o para o Santa Maria vou começar a frequentar o Champalimaud Clinical Centre. Ainda vou arranjar alguém que queira fazer-me companhia. A mim e ao Atum.

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