quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Sobre mim


Escrevo tanto sobre os outros e nada sobre mim — o costume entre aqueles que fazem da vida posto de observação da comédia e do drama exterior a eles mesmo. Eu sou o “homem que olha”. Não por inveja ou por despeito. Apenas porque gosto das pessoas. Penso mesmo que elas são a única realidade que verdadeiramente me interessa. E as mulheres de uma forma muito especial. Claro, dizem os leitores que me vão conhecendo. Mas a razão de tal acontecer não é descortinável no divã do psicanalista. Gosto das mulheres de uma forma normal, ausente de qualquer factor patológico. Há quem tenha verdadeira adoração pela pintura, pela música, pela arquitectura ou pela natureza. Eu sinto um profundo fascínio pela feminilidade, no que ela tem de belo, de resistência anímica e de via de acesso a um mundo absolutamente outro. Numa palavra, a mulher é para além de tudo o mais, o colo. 
Mas as minhas paixões também se corporizam noutras áreas da vida: gosto de ler, de escrever e, principalmente, de fazer jornais, sejam eles impressos ou digitais. 
Quanto à forma de ser, sou tímido mas fui toda a vida relações públicas das festas oferecidas pelos meus amigos, sou cínico para aqueles de quem não gosto e ingénuo na abnegação com que trato alguns que mais tarde venho a saber não merecerem, caracterizo-me mais pela imaginação do que pelo fazer e, no entanto, fui desde sempre eleito presidente ou delegado de tudo o que se possa pensar sem nunca ter deixado de ser porteiro dessas organizações.  
Em resumo, sou a maioria das vezes bom tipo. Pelo menos até à altura em que a tristeza toma conta de mim perante a ausência de sentido daquilo que olho.

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