sábado, 4 de setembro de 2021

Paulo Rangel


Este é um tema tolerado numa conversa de café mas não num texto escrito. E, no
entanto, é aceite com alguma indiferença na sociedade actual - desde que não entre portas de casa adentro. 
Vem isto a propósito de Paulo Rangel ter assumido esta tarde, num programa de televisão, a sua homossexualidade. Confesso ter ficado surpreendido. Não sabia. Gabo-lhe a coragem de enfrentar velhos fantasmas que ainda povoam a sociedade portuguesa. Pouco tempo depois de ter sido divulgado um vídeo em que Rangel aparece embriagado numa rua de Bruxelas. Protagonizando, deste modo, uma campanha ad hominem em relação à sua identidade de professor universitário, advogado, homem culto. 
Mas o reconhecimento do seu valor enquanto figura cimeira da vida social que por cá vai acontecendo, não retira interesse à questão que há muito gostaria de ver respondida: o número relevante de homens e mulheres homossexuais em Portugal deve-se à libertação ideológica e moral possibilitada pelo 25 de Abril, ou eles sempre existiram em igual escala? De outro modo: é o mimetismo com que vulgarmente somos confrontados — principalmente em meios elitistas como o das televisões, dos fóruns culturais ou das universidades — que dita a leveza dos comportamentos de carácter intímo ou, em alternativa, as pessoas nascem com sua biologia potenciada de tal modo que os percursos opcionais são mais restritos do que pensamos? 
Não sei de forma peremptória responder a isto. Da mesma forma que não sei o que dizer aos que me vão criticar (e muito) por ter a veleidade de fazer perguntas deste tipo.

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