quinta-feira, 17 de março de 2022

Putin e o medo de si


Esta fotografia é todo um tratado, seja qual for o ângulo pelo qual a analisemos. Nela regista-se para a posterioridade uma reunião de Vladimir Putin com dois altos responsáveis militares.

Nada na disposição dos lugares ocupados por aqueles homens aponta, aos olhos de um ocidental, para um lastro de normalidade que seja. Putin sentado na extremidade da mesa e os dois generais a uns seis metros de distância. Como se o presidente da Federação Russa fosse um ser providencial, de natureza divina e, por isso, pertencente a uma dimensão transcendente.

Abdicando do pretensiosismo de produzir um retrato psicológico de quem não conhecemos, talvez seja útil, no entanto, relembrar aquilo que o senso comum popularizou há muito tempo: “o complexo de superioridade não existe; aquilo que julgamos como tal mais não é que a manifestação de um sentimento de inferioridade”.

Uma coisa afigura-se-nos indesmentível: um indivíduo que proceda como aquele da fotografia é, por certo, alguém inseguro, incapaz de olhar para dentro de si, frustrado de muitas situações, rancoroso dos outros porque são normalmente vistos como ameaça – ou então perspectivados como seres fracos com quem se estabelece uma relação do tipo senhor-vassalo.

Os sociopatas são identificáveis a partir de alguns destes traços. Normalmente são pessoas infelizes na medida em que não conseguem o maior dos seus obectivos: ser iguais aos outros.

Por via disso, tornam-se frequentemente perigosos nos relacionamentos. Por vezes não olham a meios para prosseguir metas de aniquilamento dos outros e, dessa forma, poderem aquietar sentimentos de fracasso.

Espero que os meus receios em relação à personalidade de Putin, de algum modo explanados nestas linhas, não se confirmem. As mulheres e as crianças em agonia nos escombros do Teatro de Mariupol merecem melhor sorte.

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